Vanguardas
Européias_As
vanguardas européias são os movimentos culturais que começaram na Europa no
início do século XX, os quais iniciaram um tempo de ruptura com as estéticas
precedentes, como o Simbolismo.
Ao se iniciarem os anos de 1900, a Europa suportava a herança do
final do século XIX, caracterizada por duas situações antagônicas, mas
complementares: euforia exagerada diante do progresso industrial e dos avanços
técnico- científicos – como a eletricidade, por exemplo – e as conseqüências
desse avanço no processo burguês-industrial: uma disputa cada vez mais acirrada
pelo domínio dos mercados fornecedores e consumidores, que resultaria na I
Guerra Mundial. Assim, contrastando com o clima eufórico da burguesia, também
vamos encontrar o pessimismo característico do fim do século, representado pelo
decadentismo simbolista.
Essa contradição gera um clima propicio para efervescência
artística, favorecendo o aparecimento de várias tendências preocupada com uma nova
interpretação da realidade. A essa multiplicidade de tendências, os
vários – ismos- Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo,
Surrealismo, convencionou-se chamar vanguarda europeia, responsável
por uma verdadeira inundação de manifestos (só o Futurismo lançou mais de 30),
escritos entre 1909 e 1924, ou seja, durante a guerra e nos anos imediatamente
anteriores e posteriores.
O Brasil, por sua vez, passou de escravocrata para mão de obra
livre, da Monarquia para República. Os movimentos culturais desse período,
responsáveis por uma série de manifestos, são: Futurismo, Expressionismo,
Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, chamados de vanguardas européias.
Características gerais
Entende-se, com este termo – vanguarda -, um movimento que investe
um interesse ideológico na arte, preparando e anunciando deliberadamente uma
subversão radical da cultura e até dos costumes sociais, negando em bloco todo
o passado e substituindo a pesquisa metódica por uma ousada experimentação na
ordem estilística e técnica.
A palavra vanguarda deriva do francês avant-garde, termo militar
que designa aqueles que, durante uma campanha, vão à frente da unidade. A
partir do inicio do século XX, passou a ser empregada para designar aqueles que
no campo das artes e das ideias, estavam à frente de seu tempo. Ou seja, passou
a definir artistas e intelectuais que, não satisfeitos com o que então se
produzia, buscaram novas formas de expressão artística, tanto na linguagem como
na composição.
Entre as inúmeras tendências inovadoras, surgidas nas primeiras
décadas do século XX, e que contribuíram decisivamente para a constituição da
chamada modernidade artística, devemos destacar:
Futurismo: O primeiro
manifesto do movimento foi publicado em 20 de fevereiro de 1909, assinado por
Filippo Tommas Marinetti (1876-1944). Apresentava como pontos fundamentais a
exaltação da vida moderna, da máquina, da eletricidade, do automóvel, da
velocidade e uma inevitável ruptura com os modelos do passado.
É importante salientar dois aspectos muito relevantes do
Futurismo: primeiro, a total identificação entre o movimento e seu líder, a
ponto de se tornarem quase sinônimas as palavras Futurismo e Marinetti;
segundo, a adesão de Marinetti ao fascismo de Mussolini, a partir de 1919,
dadas as evidentes afinidades ideológicas entre eles. Assim, pode-se entender a
repugnância dos principais modernistas brasileiros pelo movimento de Marinetti,
apesar de apresentarem uma serie de pontos comuns com seus seguidores;
aceitavam suas ideias artísticas, mas repudiavam seu posicionamento político.
Oswaldo de Andrade tomou conhecimento do Futurismo e suas viagens à Europa
anteriores a 1919, não relacionando, portanto, o movimento com o fascismo. Por
outro lado, a palavra Futurismo passou a designar qualquer postura inovadora na
arte, levando Oswaldo a saudar, em 1921, o jovem poeta Mário de Andrade com um
artigo intitulado “O meu poeta futurista”.
Expressionismo: O movimento
expressionista surgiu em 1910, na Alemanha, trazendo uma forte herança da arte
do final do século XIX, preocupada com as manifestações do mundo interior e com
uma forma de expressá-las. Daí a importância da expressão, ou seja,
da materialização, numa tela ou numa folha de papel, de imagens nascidas em
nosso mundo interior, pouco importando os conceitos então vigentes de belo e
feio. Como lembra Lúcia Helena em Movimentos da vanguarda europeia, “ao
contrário de outras vanguardas, que refletem otimistamente sobra a técnica e o
pregresso, como por exemplo, os futuristas, os expressionistas são mais afetados
pelo sofrimento humano do que pelo triunfo”.
Por suas características, o Expressionismo desenvolveu-se mais na
pintura, dando continuidade a um trabalho iniciado por Van Gogh, Cézanne e
Gauguin. Van Gogh chegou a afirmar que essa pintura, ao distorcer uma imagem
para expressar a visão do artista, assemelhava-se à caricatura. É o que se pode
perceber, por exemplo, na pintura O grito, de Munch, expressão da angustia do
ser humano: a figura que grita não tem os traços do rosto bem definidos; pelo
contrario, é um rosto distorcido, uma máscara, uma caricatura
Em 1912 Anita Malfatti, uma jovem paulista de 16 anos, parte para
a Alemanha, já matriculada na Escola de Belas Artes de Berlim. Lá, entra em
contato com o Expressionismo alemão, retornando, maravilhada, em 1914, quando
realiza sua primeira exposição, em São Paulo. Sua segunda exposição, em 1917,
desencadeou uma série de reações e acabou sendo o fato gerador da mostra e arte
moderna que se concretizaria em 1922.
Na literatura brasileira, são esporádicas as manifestações
expressionistas; o único caso em que elas são mais recorrentes é a poesia de
Augusto dos Anjos, pré-modernista que teve sua obra publicada em 1912.
Surrealismo: O Manifesto
Surrealista foi lançado em Paris, em 1924, por André Breton (1896-1970), um
ex-participante do Dadaísmo que rompera com Tristan Tzara. É importante
salientar que o Surrealismo é um movimento de vanguarda iniciado no período
entre guerras, ou seja, foi criado sobre as cinzas da I Guerra Mundial e sobre
a experiência acumulada de todos os outros movimentos. Entretanto, suas origens
estão mais próximas do Expressionismo e da sondagem do mundo interior, em busca
do homem primitivo, da liberação do inconsciente, da valorização do sonho. Em
Salvador Dalí, o mais extravagante dos surrealistas, a influencia de Freud é
marcante. São temas recorrentes em suas obras: o sexo (e todas as suas
atribuições: angústias, medos, frustrações, traumas), a memória (sua
permanência ou dissipação, representada por relógios que se diluem), o sono e o
sonho.
O Surrealismo conhece uma ruptura interna quando Betron faz uma
opção pela arte revolucionaria influenciado que estava pelo marxismo. Muitos
dos seguidores do movimento não admitiam o engajamento da arte, criando assim
uma divisão entre os surrealistas comunistas e os não comunistas.
Cubismo: Nascido a partir
das experiências Pablo Picasso e de Georges Braque, o Cubismo desenvolveu-se
inicialmente na pintura, valorizando as formas geométricas (cones, esferas,
cilindros, etc.) ao revelar um objeto em seus múltiplos ângulos. A pintura
cubista nasceu em 1907 e conheceu seu declínio com a I Guerra Mundial. A
proposta cubista centrava-se na liberdade que o artista deveria ter para
decompor e recompor a realidade a partir de seus elementos geométricos; segundo
Picasso, “o trabalho do artista não é a cópia nem ilustração do mundo real, mas
um acréscimo novo e autônomo” (o que teria levado o pintor espanhol a afirmar
que” a arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade”).
O trabalho mais revolucionário de Picasso foi a tela
Les Demoiselles d’Avignon, de 1907, considerada a primeira obra cubista.
Influenciado pela cultura africana e ibérica, Picasso retrata cinco mulheres de
um bordel francês em poses sensuais: as duas mulheres ao centro têm expressões
de andaluzas (sul da Espanha, onde nasceu o pintor); as outras três têm feições
que lembram máscaras africanas. A ruptura com a forma de ver o mundo por uma
única perspectiva pode ser exemplificada com a mulher sentada à direita: seu
corpo é visto de costas e seu rosto, de frente.
Dadaísmo: Em 1916, em plena
guerra, quando tudo fazia supor uma vitória alemã, um grupo de refugiados em
Zurique, na Suíça, inicia o mais radical movimento da vanguarda europeia: o Dadaísmo.
A própria palavra dadá, escolhida (segundo eles, ao acaso) para batizar o
movimento, não significa nada. Negando o passado, o presente e o futuro, o
Dadaísmo é a total falta de perspectiva diante da guerra; daí ser contra as
teorias, as ordenações lógicas, pouco se importando com o
leitor e contra os manifestos.
Importante era criar palavras pela sonoridade, quebrando as
barreiras do significado; importante era o grito, o urro contra o capitalismo
burguês e o mundo em guerra. A propósito, no prefácio a Paulicéia desvairada,
Mário de Andrade assim se manifesta sobre a literatura da poesia “Ode ao
burguês”: “Quem não souber urrar não leia “Ode ao burguês””.
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